Uma discussão sobre o Ciclo da Violência, essa teoria que busca compreender como se engendra a violência contra a mulher

O ciclo registra a situação mais
comum entre os relacionamentos violentos: o casal1
inicialmente vive em lua de mel, mas em pouco tempo passa a ter várias
discussões verbais. Essas discussões vão se intensificando cada vez mais, até
darem lugar às agressões físicas. Após ser violentada, a mulher tenta de alguma
forma sair desse lugar de violência, ameaçando denunciar o agressor ou saindo
de casa para morar com um amigo ou parente. Nesse período, o agressor se sente
“arrependido”, diante de tudo que tem a perder (não há quem cuide da casa, teme
ser denunciado, teme ser trocado por outro homem, etc.). Daí, ele procura a
mulher, pede para que ela o perdoe e faz mil promessas de que isso não mais
acontecerá. A mulher, nesse momento, por algum motivo (medo ser assassinada,
receio de passar necessidade financeira, por ainda amá-lo, etc.), acaba
perdoando esse homem e o período de lua de mel entre o casal é restaurado, até
que novas agressões verbais comecem a provocar outra tensão entre eles.
Dessa forma, a violência repete
esse mesmo ciclo ininterruptamente, e essas repetições acontecem em forma
espiral, e cada vez mais fortes. Assim, o período de lua de mel vai se tornando
cada vez menor e as brigas vão se tornando cada vez mais freqüentes. As
agressões físicas, que antes eram empurrões e puxões de cabelo, agora são
murros, chicotadas e até assassinatos.
Por essa razão é que
se faz tão importante difundirmos essa teoria do Ciclo da Violência, pois a
mulher só estará livre dele quando tiver consciência de que precisa quebrar o
ciclo, ou seja, que precisa dar conta de não mais perdoar esse agressor.
A Maria da Penha, aquela mulher
guerreira que muito contribuiu para que houvesse uma legislação2 no
Brasil que punisse de fato o agressor doméstico, disse certa vez que, “quando a
mulher perdoa, participa do ciclo da violência”, ou seja, ela ajuda a manter
esse ciclo cada vez mais vivo, forte e perigoso.
É preciso, pois, apresentarmos a
essa mulher alternativas diferentes da que ela executa diariamente, como, por
exemplo, se fortalecer nos mecanismos de proteção social (CREAS, Disque 180,
por exemplo) para conseguir denunciar o agressor sem, com isso, colocar em
risco a sua vida.
Esse é o convite às
mulheres que sofrem com a violência doméstica: Quebrem esse ciclo!!!
1 Sempre gosto de enfatizar: aqui tomo como exemplo um
casal heterossexual, pois a maioria dos casos de violência contra a mulher tem
como agressor uma figura masculina. Mas não canso de repetir, a violência
contra a mulher também acontece em relacionamentos homoafetivos, em que uma
mulher é vítima e a outra, agressora.
2 Lei Maria
da Penha, lei de nº 11.340, de 07 de agosto de 2006.
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