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Sao Goncalo Do Rio Abaixo, Minas Gerais
Psicóloga psicanalista, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais, e pós-graduanda em Políticas Públicas de Gênero e Raça-etnia, pela Universidade Federal de Ouro Preto. Atualmente, sou psicóloga clínica, em consultório particular, e psicóloga educacional da Secretaria Municipal de Educação, ambos em São Gonçalo do Rio Abaixo/MG. Contato: (31) 9232 1722 | gizelepsicologia@gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7412358239952349
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sábado, 8 de março de 2014

"ISSO NÃO É DIREITO: BATER NUMA MULHER". E PONTO FINAL!*


Gizele Almeida**
Hoje, dia 8 de março de 2014, Dia Internacional da Luta Feminina, gostaria de trazer uma música do Moreira da Silva, também conhecido como Kid Morengueira, carioca que nasceu em 1902 e faleceu em 2000, com 98 anos. Escolhi essa música pela sugestão de um colega de trabalho, também psicólogo, quando num dado momento discutíamos sobre a objetalização da mulher.

Ele me cantou o seguinte trecho:

"Na subida do morro me contaram

Que você bateu na minha nega

Isso não é direito

Bater numa mulher

Que não é sua

Deixou a nega quase nua

No meio da rua

A nega quase virou presunto

Eu não gostei daquele assunto

Hoje venho resolvido

Vou lhe mandar para a cidade

De pé junto

Vou lhe tornar em um defunto".


Nesse trecho da música, Kid Morengueira brigou com o colega porque ele mexeu com uma mulher que não era "dele". Não se deve mexer nos "objetos" dos outros sem autorização, certo?

Escolhi justamente essa parte para marcar como na música fica clara a noção de objetalização da mulher. Deve-se considerar que tal composição data de outra época, mas, mesmo assim, ainda hoje há músicas, propagandas, programas de TV que apresentam, em seu discurso, a mulher dessa mesma forma e que, de modo velado, naturalizado e cotidiano, incutem na sociedade o machismo, o sexismo e a ilusão de posse sobre corpo da mulher.

Esse discurso é tão forte que parece correr nas veias como sangue, como nos apontou a filósofa feminista Judith Butler, de tal modo que perpetramos incessantemente essa lógica machista, a ponto de ela passar a ser socialmente aceita.

E assim caminhamos: cartaz de campeonato de som com mulher seminua ao lado do carro, propaganda de cerveja com mulher seminua segurando um copo, programa "humorístico" com mulheres seminuas rebolando, olhares na rua para corpos de mulheres como se eles fossem um pedaço de carne...

Dessa forma o corpo feminino vai sendo paulatinamente marcado pelo discurso, fazendo com que ele saia do campo da propriedade pessoal e intransferível da mulher e caminhe para o campo da propriedade de todos (os homens). E aí se consolida a objetalização.

A Profª. Drª. Sandra Azerêdo (UFMG) arriscava um substantivo ainda mais pungente: abjetalização. O corpo da mulher se torna abjeto, ou seja, produto perecível, usável e descartável.

E, nessa lógica machista naturalizada, é cada vez mais comum haver mulheres que mergulham de cabeça em busca desse corpo cada vez mais durável e adequado para "consumo": silicone, lipoescultura, retirada de costela, botox, reconstituição de hímen, relaxamento antifrizz, megahair, etc, etc... e etc.

Eis aí um corpo esculpido amiúde pelo discurso! Mais do que esculpido: dolorosamente talhado!

Encerro, então, com a única afirmativa plausível na música: "Isso não é direito... bater em mulher!" e ponto final, ok, Kid?! Até mesmo porque a mulher não é sua e nem de ninguém... ela é dela mesma! No mais, um grande abraço a todos/as que lutam pela causa!

*Texto informal, sem pretensão maior, mas elaborado a partir das ideias construídas no meu atual trabalho de monografia, "O corpo feminino enquanto discurso", a ser apresentado para obtenção do título de pós-graduação em Políticas Públicas de Gênero e Raça-etnia, da Universidade Federal de Ouro Preto.


**Gizele Ameida (CRP MG 04|32902) é psicóloga psicanalista, graduada pela UFMG e pós-graduanda pela UFOP. Atua desde 2007 no atendimento a crianças e adolescentes e, atualmente, é psicóloga educacional da Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Rio Abaixo/MG. Este e outros textos foram publicados no seu blog: gizelealmeida.blogspot.com.br e na página do facebook: Consultório de Psicologia Gizele Almeida. E-mail para contato: gizelepsicologia@gmail.com. 


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