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Sao Goncalo Do Rio Abaixo, Minas Gerais
Psicóloga psicanalista, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais, e pós-graduanda em Políticas Públicas de Gênero e Raça-etnia, pela Universidade Federal de Ouro Preto. Atualmente, sou psicóloga clínica, em consultório particular, e psicóloga educacional da Secretaria Municipal de Educação, ambos em São Gonçalo do Rio Abaixo/MG. Contato: (31) 9232 1722 | gizelepsicologia@gmail.com. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7412358239952349
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quinta-feira, 20 de junho de 2013

A IMPORTÂNCIA DA FUNÇÃO PATERNA: AS RELAÇÕES ENTRE PAIS E FILHOS NA ATUALIDADE


Este texto é uma síntese da palestra de mesmo título, proferida em junho de 2013 aos pais de algumas escolas municipais de São Gonçalo do Rio Abaixo/MG. Dessa forma, não se pretende aqui construir um material técnico, muito embora esteja todo ele embasado em consistente referencial teórico, mas tem-se como objetivo maior oferecer a esses pais, em material impresso, um breve panorama do que fora tratado na palestra.
Pois bem, iniciaremos com a expressão que deu origem ao título: “Função Paterna”. Muito se questionou entre os convidados se função paterna era algo exclusivo do pai, e essa foi a primeira definição: função paterna não é função só de pai! Na verdade, a função paterna é a lei, a castração, o interdito. A função paterna é algo (trabalho, estudo) ou alguém (pai, avô/ó, tia, namorado/a) que vai separar a forte liga mãe-criança. É o meio pelo qual se mostra à criança que ela não é o centro do universo. A função paterna não obedece, necessariamente, a uma ordem cronológica, mas sim uma ordem lógica, dada pelo do Complexo de Édipo, abordado por Freud e, posteriormente, por Lacan.
Reside aí outra dúvida: O que vem a ser Complexo de Édipo? O nome é estranho, mas a explicação é simples! A ideia central do Complexo de Édipo diz respeito à ilusão que a criança tem de que possui o amor e proteção total da mãe, até que um dia ela se vê obrigada a perceber que ela e a mãe não são um ser único, que é necessária a separação dessa liga mãe-bebê e que é importante e saudável a sua imersão na cultura. Aí se dá o desfecho saudável do Édipo, embora esse percurso não seja tão simples para a criança e venha acompanhado de dor e hostilidade.
Atualmente, temos percebido em vários casos que as relações entre pais e filhos têm sido pautadas basicamente em uma condição em que o filho não é colocado nesse campo de ter que aceitar essa falta da mãe, esse limite, essa castração, mas, ao contrário, é tratado como objeto de “gozo”, que deve ser entendido aqui como uma relação em que o filho é considerado como objeto, no qual se realiza todos os desejos, tanto dele enquanto filho quanto os nossos, de pais. Nessa lógica, os filhos têm o mundo: consumismo exacerbado, acesso amplo e irrestrito a tudo, de TV aos jogos de vídeo game, internet e celulares. Os desejos dos filhos passam a vir em primeiro lugar e as relações se tornam extremamente permissivas, de modo que os pais sentem dificuldade em dizer o precioso “não” a eles.
Diante desse quadro, surge a questão: Como se instaurar a função paterna? É inegável a necessidade de que essa castração se instaure. A criança precisa ser submetida à lei e à castração. Esse é o preço para se livrar da loucura! Os pais devem o limite ao filho. O “NÃO” é o maior presente que os pais podem dar a eles. Mas é preciso deixar claro que esse “não” deve ser firme, mas nunca agressivo. Autoridade é completamente diferente de autoritarismo!
Muitas vezes, os pais trazem como justificativa para essa não-castração: “Eu bem que gostaria de corrigir o meu filho, mas o ECA não deixa! Antigamente era diferente!”. De fato, antigamente era diferente, os filhos eram corrigidos a todo custo e, por isso, que foi necessária a instituição, em 1990, do ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº  8069/90), que visa garantir os direitos das crianças e adolescentes. 
Mas, então, o ECA proíbe a castração? NÃO!!! Quem já pôde ler o ECA na íntegra, percebeu que ele não proíbe aos pais a educação do filho, muito ao contrário! No artigo 19, o ECA versa que “toda criança tem direito a ser criada e educada no seio da sua família”. No artigo 22 diz que “aos pais incube o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores” e no artigo 33 fala que “a guarda obriga a prestação de assistência moral, educacional e material à criança”. Ou seja, o ECA enfatiza que a educação primária da criança deve ocorrer no seio da família e cabe aos pais oferecê-la de forma adequada.
A única exigência que o ECA faz é de que a criança seja tratada como um ser humano, ou seja, digna de todos os seus direitos e, nesse sentido, o artigo 5º vem dizer que “nenhuma criança ou adolescente pode, seja por ação ou omissão, ser objeto de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
Diante de tudo isso, outra questão se instaura: Como oferecer esse limite aos filhos? É necessária aos pais e cuidadores uma dedicação a esse processo de educação dessas crianças e adolescentes, e bem sabemos que o mundo moderno nos deixa cada vez mais assoberbados, seja pela extensa jornada de trabalho ou pelas adversidades do dia a dia, que vão desde a dificuldade em se prover alimentação, educação e saúde de qualidade aos filhos até as dificuldades em voltar para casa, dada a longa distância até o trabalho ou mesmo a precariedade dos transportes. Mas, enfim, não podemos nos esmorecer!
Um olhar atento dos pais faz toda a diferença nesse processo de educação! É necessário que estes mantenham uma observação crítica e atenta a tudo o que os filhos estão fazendo ou deixando de fazer, bem como oferecer um confronto respeitoso diante daquilo que não é interessante que os filhos façam, principalmente os excessos, tão comuns na TV ou internet.
É preciso ficar bem delimitada a fronteira entre o “pode” e o “não pode” e, mais do que isso, é necessário que se deixe claro que o pai é adulto e o filho criança e, por isso, o pai deve conduzir o percurso do filho e não o contrário.
É necessário chamar os filhos às regras e se posicionar no sentido de solicitar que estas sejam de fato cumpridas. O “não” dado não deve vir com tom de “talvez”, sob pena de que essa criança/adolescente nunca oferecerá credibilidade a um pai que não consegue sustentar a sua própria palavra.
Atualmente, os pais encontram muitos “rivais” na educação dos filhos: cultura televisiva, consumismo, drogas, internet, celular, músicas, propagandas, dentre outros. Por isso mesmo é que sua tarefa de educar se torna cada vez mais importante.
Fica aí o recado final: ser pai é saber suportar o horror que é a ideia de “perder” os filhos e prepará-los para esse mundo tirano que os espera. Do outro lado, ser filho é poder acreditar nos pais e depositar neles a sua fé. É esse o apelo que os filhos têm feito aos pais na atualidade!
Por fim, a todos os pais, mães e cuidadores comprometidos com a educação de seus filhos, gostaria de parabenizá-los e desejar-lhes CORAGEM e BOA SORTE!
 
*Gizele Ameida (CRP MG 04|32902) é psicóloga psicanalista, graduada pela UFMG e pós graduanda pela UFOP. Atua desde 2007 no atendimento a crianças e adolescentes e, atualmente, é psicóloga educacional da Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Rio Abaixo. Este e outros textos foram publicados no seu blog: gizelealmeida.blogspot.com.br.

2 comentários:

  1. Gostaria de parabenizar pelo excelente artigo, que aborda um tema de importante interesse na atualidade para quem tem filho/a ou para aqueles que lidam com o/a filho/a de alguém (p. ex., a escola), e que frequentemente, chegam angustiados (no caso da escola, é enviado um relatório escolar cheio de angústia) frente a um psicólogo/a, quase suplicando ou até suplicando por um pedido desesperado de ajuda, resumido na famosa frase: "Não sei mais o que fazer!!!".

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    1. Obrigada pelas considerações, Elane! Se quiser sugerir algum tema para os próximos textos, esteja à vontade! Um abraço! Gizele

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